O Centro Internacional de Saúde Reprodutiva, ICRH-M, levou a cabo durante um ano, uma pesquisa formativa e qualitativa para aferir o grau de conhecimento, barreiras e oportunidades no acesso à informação e serviços de saúde sexual e reprodutiva nos adolescentes e jovens, marginalizados, incluindo os com deficiência dos 10 aos 19 anos de idade, nos distritos de Tsangano e Changara na província de Tete, no âmbito da implementação do projecto Acesso Sem Barreiras. Os resultados da pesquisa revelam que há défice de conhecimento, sobretudo, nas pessoas com deficiência. Das percepções mal informadas, aos mitos e tabus, o estudo trouxe a tona um problema que, quando não solucionado, pode trazer consequências adversas na saúde dos jovens, principalmente na saúde reprodutiva. “As raparigas e mulheres que fazem planeamento familiar ou usam alguns métodos contraceptivos podem tornar-se estéreis “, cita o estudo, como um dos mitos patentes na comunidade.
Outro ponto levantado nesta pesquisa está relacionado com barreiras no acesso à informação, estas que vão desde a falta de profissionais capacitados para lidar com pessoas com deficiência, sobretudo, a auditiva, infraestruturas inadequadas para provisão de serviços e informação sobre SSR e direitos, as longas filas/horas de esperaquando as raparigas (e rapazes) vão em busca de serviços de consultas pré-natais, pós-parto, entre outros, o desconforto gerado pelo atendimento dentro do centro de saúde e a disponibilidade limitada do serviços de circuncisão masculina para rapazes em Tsangano Sede.
Dada a importância dos resultados do estudo, o ICRH-M procedeu na última segunda-feira, 24 de Maio, no distrito de Tsangano, um dos pontos alvo da pesquisa, a apresentação das constatações ao governo distrital, representado ao mais alto nível pelo Administrador Distrital, Eugénio Pedro Muchanga e seu elenco governativo.
Eugénio Muchanga disse na ocasião que umas das formas imediatas para colmatar a falta de informação sobre SSR, é o uso da rádio comunitária local para difusão de conhecimento enquanto, em paralelo, ao nível da comunidade, vai levar a cabo sessões de sensibilização e educação dos líderes comunitários e os chefes de postos administrativos para intensificar a divulgação de informações sobre esta componente.
“Ao nível das escolas, vamos trabalhar com os professores que também são líderes nas povoações onde residem, tudo com vista a minorar o quadro aqui descrito. Quero desde já manifestar a minha satisfação por este estudo, por isso, pedimos que fosse igualmente apresentado aos demais membros do governo”, disse Muchanga.
Em outro desenvolvimento, o administrador do distrito, assegurou que o seu elenco de tudo vai fazer para desmistificar junto às comunidades a ideia de que as pessoas com deficiência são para serem escondidas, alegadamente, porque as estão a proteger dos males da sociedade. “ Já mapeamos e conhecemos as famílias que tem crianças ou adolescentes com deficiência, já estamos a trabalhar com estas famílias no sentido de mostrar que ser PcD não é motivo para ser isolado, o trabalho vai continuar a ser feito, agora com mais conhecimento e evidências que o estudo trouxe. Para nós, este estudo é de extrema importância, porque elucidou-nos sobre algumas coisas que podíamos não estar atento a elas – foi positivo e pensamos que já temos um ponto de partida. É característica nossa, aqui em Tsangano, não falhar quando nos surgem oportunidades destas, por isso que, renovamos desde já o pedido de colaboração em outros assuntos, finalizou Muchanga.
‘’Este estudo veio abrir-nos um pouco mais a mente. Vamos dentro de dias organizar uma formação aos provedores de saúde sobre esta matéria e partilhar os resultados desta pesquisa, porque entendemos que é com o pessoal capacitado que podemos formar e informar melhor a sociedade ”, confidenciou Brígida Egídio Boa, Directora Distrital da Accão Social de Tsangano, também presente no encontro distrital.
Importa salientar que, este estudo foi apresentado semana passada, de 20-21 de Maio, aos Secretários Permanentes Distritais de Changara e Tsangano, Directores dos Sectores de Educação e Saúde, Chefes dos postos e localidades onde o estudo decorreu, Enfermeiras de SMI e parceiros que implementam as actividades similares ao nível da província de Tete.
O Projecto Acesso Sem Barreira, de três anos, iniciou em 2020 e é implementado em consórcio com as organizações PCI Media Impact, TV Surdo e ICRH-M, com objectivo de alcançar raparigas e rapazes adolescentes, com atenção a jovens marginalizados e adolescentes com deficiência, pais e outros actores comunitários para melhorar o conhecimento sobre Direitos de Saúde Sexual e Reprodutiva (DSSR) através de Comunicação para a Mudança de Comportamento Social.