“Só com a profilaxia completa é que podemos conseguir eliminar a cadeia de transmissão”.
O Ministério da Saúde introduziu, finais do ano passado, novas abordagens no tratamento da tuberculose em Moçambique. Pretende-se com o efeito, fazer face a crescente número de casos de TB, sobretudo, nas pessoas em situação de vulnerabilidade. Por isso, por exemplo, todas crianças menores de 15 anos com casos de contacto de Tuberculose multirresistente vão beneficiar-se da profilaxia com a levofloxacina. Mas, há mais mudanças introduzidas.
É devido a este facto que decorre desde ontem, 19, até ao próximo dia 24 de Setembro, em Angónia, na província de Tete, a formação em matéria de Tratamento Preventivo da Tuberculose para pelo menos 25 enfermeiras de Saúde Materna Infantil em representação de todos os distritos da província.
A Responsável Provincial de Tuberculose na DPS em Tete, Francisca Jone, fala das novas mudanças introduzidas, e a razão da escolha das ESMI para beneficiarem-se desta formação. “Pretendemos actualizar sobre as novas intervenções em relação ao tratamento da tuberculose, porque antes esta intervenção era feita na faixa etária dos 0-15anos de idade, somente com isoniazida, mas com a novas abordagens introduzir-se-á 3HP para os contactos para TB sensível e a levofloxacina para os contactos de pacientes de TB-MR. Foram escolhidas as ESMI, porque estas prestam serviços e cuidados no sector da CCR – (Consulta de Criança em Risco). As crianças que são contactos de casos de TB, elas são seguidas e todo o tratamento deve ser feito ao nível da CCR, por isso, ao capacitar este grupo, estamos a fazer uma atualização das mudanças que aconteceram ao nível do programa, mas principalmente em relação a profilaxia da TB para todas as crianças expostas e a pessoas vivendo com HIV”, disse Francisca Jone, para no outro momento lembrar que, para além de crianças expostas, o raio de atenção foi alargado a mais um grupo – alvo.
“Estendemos também a atenção para pacientes que são imunodeprimidos, são os casos de HIV positivo que tenham contacto com TB-MR, pacientes com desnutrição, diabéticos que estejam em contacto com TB MR – este grupo fará a profilaxia com levofloxacina mas o seguimento para este grupo será ao nível das consultas clinicas”, disse a Responsável de TB na DPS em Tete.
“Actualmente estamos a fazer a profilaxia com Isoniazida para os casos de TB sensível, com menos de 15 anos, mas em algumas províncias, já introduziram novo pacote que é a profilaxia com 3HP, (rifampetina e a isoniazida). Esta nova abordagem, na província de Tete vai iniciar no próximo ano”, disse Francisca Jone que também é uma das co-formadoras neste treinamento.
Flora Simite, enfermeira de SMI no Centro de Saúde nº2, na cidade de Tete, já esfrega as mãos de alegria, por beneficiar-se desta atualização sobre a TB e suas drogas, porque segundo afirma, “passaremos a conhecer à fundo os medicamentos e sua dosagem, e sobretudo como lidar em caso de uma reação adversa ao medicamento. Antes, quando nos deparávamos com casos de TB, referíamos ao clinico, mas agora, com esta formação, estaremos a altura para rastrear, diagnosticar, e o atendimento de certeza vai melhorar”, disse Flora que não tem dúvidas que vai melhorar a qualidade de seguimento de pacientes e contactos de TB que chagar a unidade sanitária.
Lembre-se que, esta é a segunda capacitação que ocorre na província, depois de há duas semanas, pontos focais distritais de TB-MR e de algumas unidades sanitárias terem se beneficiado do pacote de TB-MR. Neste, integra-se, contudo, as enfermeiras de saúde materno infantil que prestam atendimento na CCR, com vista a garantir a implementação da diretriz nacional para o manejo da TB latente.
Estas actividades, estão enquadradas, igualmente, no âmbito da implementação do Projecto de Adesão e Retenção de Pacientes em TB, por parte do ICRH-M em parceria com a DPS-T, em pelo menos 6 distritos, com o financiamento do Fundo Global, através do Centro de Colaboração em Saúde, recipiente primário.
Às Enfermeiras de Saúde Materno Infantil, o Coordenador do Projecto no ICRH-M, Pedro Carvalho, recomendou que tirem maior proveito deste momento único de aprendizagem e de partilha de experiências, que absorvam todas habilidades e possam no final, quando regressarem aos pontos de origem para que privilegiem a réplica nos centros de saúde, a outros profissionais. “ No final, o maior beneficiário que seja o paciente ou utente que vem à vossa US e encontre serviços à altura e com devida qualidade”, finalizou.
ESTÁGIO DA TUBERCULOSE NA PROVÍNCIA DE TETE.
Francisca Jone aproveitou a ocasião para falar do estágio desta doença na província de Tete. Segundo disse, a província está em bom ritmo em relação aos casos de disgnóstico de TB e sobretudo nas crianças que são colocadas na CCR. Contudo, há desafios:
“O grande desafio da província está relacionado com a completude da TPT – ou seja, a situação daquelas crianças que iniciaram e que terminaram o tratamento de isoniazida, porém, temos notado que existe uma ligeira perda de seguimento destas crianças ao nível da CCR, por isso, esperamos com esta formação capacitar e chamar atenção a estas enfermeiras em relação ao bom seguimento clinico para reverter este cenário. Porque quando colocamos uma criança em profilaxia, nos esperamos que estas terminem, porque só desta forma é que se pode prevenir a TB.
Outro desafio a salientar tem de ver com o crescente número de casos de Tuberculose infantil diagnosticado na província de Tete, e já constitui preocupação para o sector da Saúde, porque está neste momento acima da média admitida que é de 13% a 15% – o que acaba por nos remeter a uma reflexão, sobre o que está acontecer e para encontrar uma solução.
Quando olhamos para a província, os distritos de Chiúta e Cidade de Tete são os polos que mais reportam os casos de TB infantil. Pelo que notamos, o grande facto para elevada estatística nestes distritos é porque estas crianças não conseguem chegar ao tratamento – há muitas crianças que são abandonos, por isso, sendo crianças tem imunidade muito baixa e podem estar em contacto com algum caso de TB MR e a probalidade de se infetarem é maior. Por isso, acreditamos que pelo facto destas serem abandono, e não terem sido submetidos ao tratamento preventivo estejam a contribuir com maior parte para que venham a desenvolver a TB. Portanto, só com a profilaxia completa é que podemos conseguir eliminar a cadeia de transmissão”, finalizou Francisca Jone.